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06/02/2021
THALIA TORRES: Substantivo-amor
Seria o amor como descreve Luís de Camões? "Fogo que arde sem se ver"? "Ferida que dói e não se sente"? Podemos dizer que, de todos os sentimentos já possíveis na humanidade, o amor é um "bem-desesperado", "copioso e exemplário", atado ao remo dos "desvarios mais tiranos", em que dele, se é sujeito....?
Ao amor nada se explica, o amor a nada pertence,
o amor é verbo uno, versículo-intruso, uma chama latente,
o amor é um andar-solitário, um invasor-agrário, num latifúndio tangente,
o amor é surto, desvio ciente, é um querer-acuado na loucura efervescente;
O amor é um linho nobre, um colchete, uma fita
é uma parede de quadros,
uma viga, um retalho,
um alfinete-aliado,
medidor-demasiado, com preciosidade de chita;
O amor é léxico, clássico, antigo,
tem, como diz José Ribeiro: "a beleza da rosa",
sendo uma das "flores mais formosas", num eterno-jazigo;
O amor é o sob a pele das palavras, mais que cifras e códigos,
é o sol que consola os doentes e os renova, uma vã poesia, simples, uma prosa,
o amor é nada e todas as coisas, ora inteiro, ora em outrora, é um vapor, é mormasso,
é o inchaço do relógio, sob a cinza das horas;
O amor é coletivo-avanço, a passos largos, desinibido, desengonçado,
ora é o pisar de botas, noutras nem é calçado,
o amor é ferro, é osso, silicato, é em seu fosso, a profunda cobiça do seu desejo premeditado;
O amor é um teste, uma prece, uma peste, um insulto-requer a iniquidade,
ora é dilema, ora é presunção, ora é tédio pulsante, vomitando a cidade,
o amor é feicho, o amor reduz, o amor engradece, o amor é o ego daqueles sem vaidade;
O amor é todas as ênfases e enfins, disparidades e afins, é a sua verdade circunscrita,
é o broto, é o serafim, é o lusitano, é o tupiniquim, é a ethos no Brasil escravagista,
o amor é a promíscuo, é fantástico, é deste mundo sobrenatural, extraordinário sufragista;
O amor é aquilo que só depende daquilo que ainda não lhe existe,
é conversor, é o seu opressor e só nele, inteiramente nele, consiste,
é a faca que tudo dissipa o mundo, que tudo nele se subdivide, se inside;
O amor é alma, é carne, é sangue, é valsa, é samba, é coração,
é ardor, é justiça, é simplista, é mudança, ora separatista, noutra junção,
o amor é frio, acalento, é tormento, é vencimento, lembrança contida na solidão;
O amor é tudo, o amor é nada, o amor é fruto, o amor é adaga,
na sangria deste mundo, o amor é cortesia indulta, poesia, náufraga,
o amor é sede anglo-saxônica, já foi Rita, já foi Chico, já foi Adriana, e ainda assim não se basta;
O amor é leigo, o amor é freio, é o anseio das ideias de "vão pertencimento",
é paradisíaco, repentino, libertino, é este eterno-inquilino sem contentamento;
* Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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