26/11/2021

EMANUELA SOUSA: Divagações e mágoas

Por Emanuela Sousa*


Ah, maldita mágoa! 

Maldita mágoa que tens de mim. 

Que abre cada vez mais um abismo

Esse ressentimento 

Essa secura

A memória que adormece nua.

Esta noite tive vontade de te ligar e perguntar quem somos nós hoje, além de jovens ressentidas, de cidades distintas, que fingem não se conhecer. Desisti no último instante, lembrei do quanto tu detesta falar ao telefone e no mínimo, diria que minha atitude foi invasiva. 

Eu te digo, por aqui: Somos duas jovens, com memórias. Seremos pó, e daqui há um tempo não seremos mais nada... 

Acobertadas pelo ressentimento,  apenas fingimos não estar sentindo nada, seguimos em frente, declaramos aos quatro ventos que já passou... Mas já passou para quem, se por dentro ainda grito o teu nome? 
Errante fomos nós, que nos deixamos levar-nos pela dor e não encaramos o rosto uma da outra para expor verdades.

Ontem fui a um bar sozinha, e fiquei observando a urgência das pessoas em substituir um amor por outro. Necessidade explícita nos olhos de apagar de vez o que aconteceu. Por dentro choram, lamentam-se mas não confessam sua solidão e nem contam suas memórias.  

Tenho a impressão que foi o que fiz (e o que você fez ) tenho a leve impressão que quero matar as memórias,  afoga-las num copo e falar de amor para uma outra pessoa, mesmo que superficialmente. Porque de amores profundos, só falei para você. 

Que mágoa inútil... Não me serve para nada. A partir de agora meu amor será em vão. Nada que eu fizer irá amolecer teu coração, nem mesmo esta carta  que acabo de lhe escrever e enviarei para o seu endereço. 

(Cada um sabe de si).


*Emanuela Sousa é cronista, escritora e estudante de Jornalismo. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou.Hoje Emanuela é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias.  

Um comentário:

  1. Creio que a maioria de nós viveu esta mesma mágoa em algum momento da vida, senão mais de um, excelente texto!

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