Uma boa referência na vida faz toda a diferença. Em alguns círculos, vez ou outra, cito que, na jornada de um homem ou de uma mulher, ter um modelo inspirador é fundamental. Vivemos em um período no qual a decadência humana parece se acentuar a cada dia, e creio firmemente que a tendência natural é de piora. Ao contrário da ampla maioria dos sociólogos, adoto uma visão que vai na contramão deles, acreditando que existem, sim, causas naturais inerentes à sociedade e ao desenvolvimento humano.
Ter alguém para servir de referência ajuda bastante a suportar este mundo imoral e perverso. Por isso, é preciso ter muita prudência na hora de escolher voluntariamente alguém bom em quem possamos nos espelhar — embora seja importante reconhecer que sempre acatamos, de forma involuntária, características de outras pessoas em nossas vidas. Confesso que demorei bastante na minha escolha; errei, e as consequências provaram isso. Mas faz parte; não há o que reclamar, pois foi um aprendizado valioso.
O momento em que percebi que minhas referências estavam na minha frente foi algo libertador (como diria a juventude pós-moderna). Entendi que tudo o que me ensinaram, em certa medida, tinha o sentido de me fazer desprezar os meus, a minha família, o meu sangue. Tudo o que me foi ensinado fez com que eu ficasse cego para o simples, o comum e o que realmente importa.
Vi referências importantes na área espiritual, na política e, principalmente, uma que considero quase completa: a referência de homem. E foi nela que, depois de me situar em seu aprendizado, consegui desenvolver muita coisa na minha vida. Hoje, enxergo-me como uma pessoa bem melhor. É muito interessante pensar que, no passado, os homens tinham como referência guerreiros que eram, ao mesmo tempo, fortes fisicamente, com espírito heroico, e intelectuais de primeira. Isso é uma prova cabal de que, no quesito valores, só caminhávamos ladeira abaixo.
É por isso que hoje minha principal referência de homem é meu pai. Ele é um homem simples, comum, extremamente sábio (apesar de não ter conseguido títulos acadêmicos, que para mim, avaliando o mundo de hoje, não querem dizer mais nada) e que foi um verdadeiro guerreiro. Não no sentido de enfrentar guerras com lanças, espadas ou metralhadoras, mas por ter liderado uma família em meio à devastação, à miséria e às desgraças que o rodeavam. Ele se manteve e se mantém de pé em meio às ruínas. Ao contrário de muitos que se consideram intelectuais ou figuras importantes, mas que são péssimos pais, péssimos maridos/esposas e moleques que pensam que ainda são adolescentes, homens como meu pai podem não citar O Capital de Karl Marx, mas são pais e maridos excelentes e trabalhadores aguerridos. E fazem do seu silêncio e estilo pacato um grande exemplo a ser seguido.
Imagem: PEDRO WEINGÄRTNER: Tempora mutantur, 1889. Óleo sobre tela, 160,4 x 93,4 cm. Porto Alegre, Museu de Arte do Rio Grande do Sul.

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