Por Thalia Torres*
Tenho medo do tempo, e de tudo o que ele me deixa em ócio.
Tenho medo do tempo, de todas as tintas, escritas e borrões que talvez ele não desse jeito.
Tenho medo do tempo, de tudo o que ele tem, de tudo o que nunca teve, e sobretudo, de tudo o que nunca terá.
Tenho medo do tempo, medo do ontem que ainda insiste em me assombrar; mistos á incerteza do amanhã, o que o hoje me parece ser.
Tenho medo do tempo assim como tenho medo do escuro, tenho medo do dia-barulho que em minha cabeça lateja.
Tenho medo do tempo dar um salto maior que sua própria perna, e no meio deste desalento, lá esteja eu, acompanhada deste medo.
Tenho medo do tempo não me dar tempo de me permitir tempo para às tristes cláusulas do tempo.
Tenho medo do tempo, assim como ele tem medo da história, e assim como a história teme aos fatos.
Tenho medo do tempo e de tudo o que nele se esconde; o casamento, o rompimento, a formatura, a palavra amiga, a palavra dura, e todo o conjunto de coisas que dentro deste, são perecíveis.
Tenho medo do calor do tempo, que a frieza do relógio, congele a quentura do meu coração.
Tenho medo da curvatura que o tempo tem sob meus ombros, tenho medo que o tempo ande primeiro do que eu e se aposse de minhas próprias pernas.
Tenho medo que o tempo me desvie de tudo o que me está reservado.
Tenho medo que o tempo pese feito aço kryptoniano sobre minha cabeça por mais algum tempo, tenho medo das lembranças que o tempo me contém.
Tenho medo do tempo anoitecer e não amanhecer minhas ideias sob o mesmo espectro de vida que tive ainda ontem.
Tenho medo que o tempo não passe, de modo que, também tenho medo que passe rápido demais, não me deixando escolhas.
Tenho medo do tiro certeiro do tempo no peito da minha ilusão. Tenho medo que o carregar de anos nesta luta contra o tempo, se esvazie com o tempo e perca o sentido, e ainda assim, não esvazie as minhas incertezas...
Tenho medo do tempo não é de ontem, não é de hoje, nem sei quanto tempo.
Tenho medo do tempo que o tempo tem de tempo pra que não me dê tempo de escrever sobre ele.
Tenho medo do tempo, tal qual Raul Seixas tinha da morte o pegar em um suspiro, ou pela metade de um copo de uísque.
Tenho medo da voz do tempo, do barulho do sentenciado do silêncio-de-épocas.
Tenho medo que o tempo cegue meus olhos.
Tenho medo que o tempo silencie minha voz.
Tenho medo que o tempo me desmembre em lembrança e me converta em saudade.
Tenho medo que o tempo me faça induto e passivo de inutilidade.
Tenho medo de falar ao tempo e este, não me dê tréplica.
Tenho medo de fixar no tempo um conjunto paralelo de verbos.
Tenho medo de exergar o tempo a frente de seu tempo, e ultrapassar o tempo, tempo demais.
Tenho medo dessa mistura biológica que o tempo tem, de nos contar.
O tempo é esse choque, essa mescla indevida. O meu medo, é a sobra que o tempo não teve tempo de reter. De modo que o que se teme, é o próprio medo. Essa é a resposta ao tempo....
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
Estou com tempo de ler e ver e crer que não há escapatória da foice ceifadora da vida.
ResponderExcluirImplacável tempo.