Por Thalia Torres*
Acordo para a "morte'.
Lavo o rosto. Visto-me. Barbeio-me. Calço-me.
A impressão de último-dia me consome todos os dias;
Um dia cotado de nenhum pressentimento,
Tudo funciona, pessoas morrem, tudo gira,
e como de costume, e apesar do pior, saio para a rua. Irei morrer!
Não morri, tampouco morrerei agora, medo contínuo...
Mais um dia se desata á minha frente; Quantas coisas ainda faltam á se acumularem no tempo?
Se não fossem estes blocos e notas, mal saberia á mim, comprimir e, ao mesmo tempo, exercer tantos medos e faces, que o anseio-dos-tempos me destina;
Caminho no centro, nos escritórios, me vejo nos espelhos da vitrine das lojas...
Vejo mãos que não apertam, olhos míopes, bocas que sorriem ou simplesmente, desfilam-se em escancaros, um orvalho sobre o paladar selene reagindo em silêncio á incerteza dos dias...
Entendi que a morte se dissimula.
Não me despeço, não temo seu bago e tática, nada sei.
Ouço música doce, um arrepio violino, ou vento. Não sei.
Mais uma vez, não é a morte. É o sol. É ele quem ardeia os grandes conflitos noturnos dos homens, movendo-os nas engrenagens do dia.
Tenho pressa. Irei morrer? Peço desculpas aos homens de passos lentos, mas quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vibram-se o tinir dos talheres. Os cafés, retinam-se nas xícaras e anedotas.
Vejo cartazes. Tenho pressa! Compro um jornal. A sinto bem perto. Ela virá? É pressa. Embora não morra o aqui e agora, quero viver o viver. As vezes é preciso aprender a correr, antes de começar a andar. Aprender a voar, pra não se desesperar em correr.
O dia já vai metade. De que adiantou a pressa?
A rota que busco traçar não me avisa que começo ela tem por acabar.
Estou cansado. Quero dormir! Mas ainda há preparativos e outros mil por vir.
Recebo cartas, faturas. Faço mil coisas e nada.
Ainda falta muito a se receber.
Procuro ao extremo por comprimidos, não tendo ela o que preencher. Combino planos, encontros a que nunca irei.
Sob á pronúncia de palavras vãs, minto em dizer: até amanhã. Pois não haverá. Tem de não haver! Preciso morrer?
Me declino com o fim de tarde. Minha cabeça dói de pensar. Procuro um alívio, uma pílula, uma água para me afogar. Desta dor não morrerei.
A morte me engana. Na túnica dos ansiosos, ela trapaceia os céticos, trapaceia os deuses e os mentirosos. Também tenho pressa em verdades?
Volto á casa. De novo me limpo.
Os pensamentos apresentam-se ordenados.
No roupeiro, o pó-do-dia.
Fecho meu quarto. Fecho minha vida.
O elevador interno me fecha. Estou sereno do medo que me restou do dia.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
Sinto um lado sombrio, se eu tivesse alma, diria que o seu texto cobre e expõe o sofrimento íntimo de uma alma introspectiva ao extremo.
ResponderExcluirMas, nasci desprovido de espirito ou alma e abarco seu sofrimento textual.
A morte é um prêmio pelo jogo da vida: impossivel ganhar.