Todo cuidado é pouco: a crise no trânsito urbano da Princesinha do Norte

Por Diego Sousa*



Gosto de contar causos cotidianos da minha vida. Eu tinha até dado um tempo, mas ultimamente voltei a falar sobre isso, logo após o uso do Facebook, diga-se de passagem. Queria, porém, abordar algo que tenho achado deveras pertinente nos últimos dias: a ideia da não obrigatoriedade de frequentar autoescola para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Algo de que discordo piamente.

Nesta segunda-feira (01/12), tive a infelicidade de novamente passar por três quase-atropelamentos. Eu ia caminhando, após um dia de trabalho, em direção ao mercantil Lagoa, aqui da comunidade campo-velhense, quando um carro (sem sequer dar sinal) quase me atingiu enquanto eu atravessava a rua. Até aí, nada de diferente na vida de um pedestre em uma cidade rumo ao cosmopolitismo. Em seguida, outro carro, em mão errada, também quase me atropelou. Tudo isso bem perto do mercantil citado. Foi um baita susto. Logo eu, que sou assustado por natureza, fiquei cabreiro (xinguei internamente os motoristas) mas segui minha vida. Fui fazer minhas compras.

Na saída, após atravessar o posto de gasolina rumo ao calçadão do Colégio Ethos, outro carro, entrando à esquerda, sem dar sinal e sem faróis acesos (um carro novo e importado), quase bateu em mim novamente. Dessa vez, não xinguei apenas em pensamento. Fui mais enérgico. Sem arrependimentos. Cheguei a imaginar, comicamente, no estilo cearense: "Será que pisei em rastro de corno?"

Mas a verdade é a seguinte: essa sequência de eventos é apenas o resultado do cosmopolitismo que avança assustadoramente em nossa outrora singela cidade. O pedestre nem é considerado gente por quem tem um carrão — essa é uma verdade que os "anti-pobres" não podem negar. Entretanto, não quero ser leviano ao dizer que essa "pandemia de motoristas ruins" não afeta apenas quem dirige carros. Eu, como cidadão que dirijo carro, moto, bike e faço caminhada no dia a dia, entendo bem como faz falta uma boa educação no trânsito na vida das pessoas. Motoqueiros dirigem de modo insano, arriscando principalmente a própria vida. Moro em frente a uma avenida e vejo isso todo dia. É uma loucura nesse trânsito quente de nossa Sobral.

Ninguém mais para na faixa de pedestre para crianças, idosos e gestantes. Ninguém respeita a vida. É uma raiva misturada com pressa que faz com que as pessoas sequer se respeitem no trânsito. Sem falar que, do ano passado para cá (2024 para 2025), nossa política de trânsito regrediu bastante.

E dito isto, deparo-me com uma política nova do governo federal que propõe que as pessoas não precisem mais de autoescola para poder se habilitar. É verdade que se habilitar no Brasil é muito caro, e o custo de vida não ajuda. Mas é verdade também que a nossa educação no trânsito deveria era se acentuar mais e com mais rigor, para poder produzir bons condutores. Se com as aulas — cansativas e repetitivas — nas autoescolas a turma não aprende, imagine sem isso. Além do mais, causará desemprego em massa nesse setor.

Até que me provem o contrário, eu considero essa política um fracasso. Sem ordem, não pode haver progresso.

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Imagem: Tela Paradoxo, do artista plástico Luiz Rangel

*Diego Sousa é assessor de imprensa, escritor, produtor audiovisual, designer e crítico político. Possui graduação em Sociologia, com grande interesse na área da Educação, com ênfase nas Ciências Sociais.

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