Diego Sousa - Solidariedade, Hipocrisia e Falta de Respeito: O Contraste na Ação Federal entre Rio de Janeiro e Ceará

Por Diego Sousa* 

Foto: Reprodução

A megaoperação policial, denominada Operação Contenção, realizada em 28 de outubro no Rio de Janeiro — especificamente nos Complexos da Penha e do Alemão, áreas sob controle de organizações criminosas —, teve ampla repercussão nacional e internacional. O assunto gerou notas oficiais, opiniões diversas na internet, polarização, ódio e luto pelas vítimas. Minha avaliação, no entanto, difere da maioria, que se divide entre "especialistas do ódio" ou "coaches humanistas da paz e do amor". A dualidade entre esquerda e direita, mais uma vez, polariza as análises políticas e sociais, sem abordar a essência do problema. Na verdade, independentemente dessa "conversa amuada", a população — seja na favela, no centro burguês, no subúrbio ou no campo — tem uma única demanda: segurança. Se a classe política alega não saber mais o que fazer, a resposta do cidadão é clara: "Vire-se. Quem quis entrar na vida pública precisa resolver."

A despeito da controvérsia da operação no Rio de Janeiro, o fato é que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) agiu com notável presteza. A Ministra Macaé Evaristo condenou a ação como um "fracasso" e "abominável", criticando a falta de uso de inteligência e o alto custo de vidas da população periférica. O Ministério enviou equipes ao local para acompanhamento e acolhimento, oferecendo apoio psicossocial, constatando uma série de violações aos direitos humanos e defendendo que o combate ao crime organizado deve focar na asfixia financeira, não na exposição da população ao "horror e ao pavor". O MDHC, contudo, desmentiu boatos de que ofereceria auxílio financeiro às famílias dos mortos.

No entanto, onde está essa mesma solidariedade e compreensão para com o povo cearense que vive o terror dos deslocamentos forçados? Há muito tempo reparo na ausência de ações e na falta de atenção do Governo Federal ao cenário da segurança no Ceará. Para as vítimas que perdem seus lares devido ao crime organizado no estado, a Ministra Macaé Evaristo e o MDHC não emitiram nota pública nem detalharam ações específicas para combater o terror imposto por facções criminosas. As notícias relacionadas ao MDHC no Ceará referem-se a outras pautas, como o acolhimento de brasileiros repatriados, evidenciando um silêncio eloquente diante de uma crise humanitária interna.

É fundamental ressaltar que não busco atacar as famílias das vítimas no Rio de Janeiro, nem legitimar qualquer morte. Eu mesmo passei a maior parte da minha vida na extrema periferia de Sobral (CE), na comunidade da Várzea Grande, onde atualmente há dezenas de casas abandonadas devido ao crime organizado. Compreendo a dor dessas mães que choram por seus filhos, sejam eles "inocentes ou criminosos", pois elas também são vítimas em um ambiente de tentações extremas e avançadas.

Contudo, o questionamento permanece: por que o povo cearense, que está perdendo seus lares, sua saúde e suas vidas devido aos deslocamentos forçados, não merece a mesma atuação e visibilidade do Ministério dos Direitos Humanos? A ausência de uma resposta federal coordenada para o terror vivido nas periferias e comunidades do Ceará revela uma hipocrisia e uma falta de respeito que não podem ser ignoradas.


Fontes e Referências


*Diego Sousa é assessor de comunicação, escritor, produtor audiovisual, designer e crítico político. Possui graduação em Sociologia, com grande interesse na área da Educação, com ênfase nas Ciências Sociais.

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