O Brasil adota, há anos, avaliações em larga escala. Embora a intenção seja monitorar a qualidade do ensino e direcionar políticas públicas, algo que concordo e vejo como mecanismos importantes para melhorar a qualidade do ensino nas escolas, a implementação dessas avaliações tem gerado uma cultura de "metas a serem batidas". Gestores e professores são, com frequência, pressionados a alcançar pontuações específicas, o que pode levar a um foco excessivo em conteúdos que são avaliados, em detrimento de outras habilidades e competências essenciais. Essa dinâmica transforma a escola em uma espécie de "fábrica de notas", onde o professor se vê cada vez mais como um "executor de currículo" e o aluno, como um "produto" a ser aprovado.
A pressão por resultados tem consequências diretas e negativas para todos os envolvidos. Para os professores, a saúde mental dos educadores é diretamente afetada. O estresse para cumprir metas, a sobrecarga de trabalho e a sensação de que o seu trabalho não é valorizado em sua totalidade (já que o foco está nos números) geram adoecimento, desmotivação e, em muitos casos, o abandono da profissão. Para os alunos, a escola deixa de ser um espaço de convivência social e de construção de identidade. A aprendizagem significativa, que envolve a curiosidade, a criatividade, a colaboração e a formação de cidadãos críticos, é substituída por um ensino focado em memorização e resolução de questões de prova. O bem-estar das crianças é negligenciado, pois o tempo e a energia dedicados a atividades lúdicas, artísticas e de socialização são reduzidos para dar lugar a mais simulados e reforços. É crucial resistir à lógica empresarial na educação. A escola pública é, por sua natureza, um espaço de múltiplos significados. Ela é o local onde a criança aprende a lidar com o diferente, a resolver conflitos, a desenvolver sua autoestima e a entender o mundo ao seu redor.
A verdadeira aprendizagem significativa não se mede apenas por notas em uma prova. Ela se manifesta na capacidade de um aluno pensar criticamente, de se expressar com clareza, de ser empático e de agir de forma ética. A educação de qualidade deve ser medida não apenas por índices, mas pela capacidade da escola de formar indivíduos plenos, felizes e preparados para os desafios da vida em sociedade. É necessário que gestores e políticas públicas reavaliem a centralidade das metas e voltem a priorizar a saúde mental de professores e alunos, o desenvolvimento integral e o papel social da escola como um bem público e coletivo.
1 Comentários
Reflexão importante! Parabéns pelo texto.
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