DIEGO SOUSA: O risco da sociologia identitária limitada ao gênero



A nova geração de sociólogos e antropólogos brasileiros está conduzindo essas ciências para um beco sem saída. A crença cega de que identidades – ou identitarismo, como alguns preferem chamar – se restringem a questões de gênero é uma visão reducionista, que ignora a profundidade histórica e social dos estudos identitários. Essa abordagem estreita desconsidera os avanços já consolidados pela literatura sociológica e antropológica da América Latina e da Eurásia, que, aliás, têm sido um respiro diante da estagnação que ameaça essas disciplinas.

A identidade, sob a luz da sociologia e da antropologia, vai muito além da questão de gênero. No Brasil, por exemplo, falar de identidade é estudar o gaúcho, o sertanejo, o quilombola, os povos indígenas e tantas outras manifestações culturais e históricas que formam a nação. No entanto, a academia parece ter aderido a um academicismo importado, especialmente dos Estados Unidos, que insiste em reduzir o debate identitário a uma única pauta, ignorando a riqueza e a diversidade dos processos identitários que moldam a sociedade.

Essa limitação intelectual empobrece a análise sociológica e antropológica e cria um distanciamento entre a academia e a realidade social. Identidade não pode ser reduzida a um único viés. Enquanto a sociologia latino-americana e eurasiática resistem e produzem conhecimento amplo e contextualizado, o academicismo norte-americano segue obcecado por debates cada vez mais restritos, deslocando-se das verdadeiras questões que afetam as sociedades. A sociologia brasileira precisa resgatar sua pluralidade e sua capacidade de interpretar a realidade de maneira abrangente – antes que se torne irrelevante.

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Por Diego Sousa – Sociólogo e blogueiro fundador do Pasquim Sobralense

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