Por Caio Botelho*
Não há um só dia em que nossos inimigos deixem de dizer que as ideias do Partido Comunista estão anacrônicas e que nossa identidade não é mais atual. Nos estimulam a virar um Partido adaptado à ordem, inofensivo e limitado, quando muito, à propaganda de reformas em um sistema que, sabemos, passou do prazo de validade (um parêntese: defender reformas, mesmo nos marcos do capitalismo, não é um problema; mas limitar o horizonte a elas, sim). As pressões são imensas e por vezes abalam convicções mesmo de gente bem intencionada.
Cada tempo histórico tem seus desafios próprios. Atualmente, mais que nunca, a vigilância revolucionária precisa de reforço. Explico o raciocínio: lá pelos idos dos anos 1970, por exemplo, ingressar no Partido Comunista do Brasil era coisa pra gente muito corajosa. Nada tinham a ganhar, senão a consciência de participar da luta por uma causa justa. Fora isso, era colocar o próprio pescoço em risco e viver uma vida repleta de sacrifícios.
A forja que formou aquelas gerações prestou um serviço enorme. A turma mais nova, também abnegada e merecedora de respeito, vai ter que ralar muito para estar à altura. E não tem jeito: o tempo, aos poucos, vai exigindo que esse pessoal assuma cada vez mais protagonismo. Não ter enfrentado a clandestinidade, prisão, tortura ou exílio não é um demérito, nem diminui a qualidade dos comunistas de nosso tempo. Mas aumenta muito a sua/nossa responsabilidade.
Mas depois de tudo isso, será sob o turno dessa geração que nossos inimigos de classe vão conseguir seu intento de liquidar o Partido? A essa pergunta respondo convictamente com um rotundo "não". Mas isso é pouco. Em nossa opinião, precisamos olhar mais para o Partido. Tratar do gravíssimo problema da formação ideológica da militância, sobretudo a mais jovem, à luz do marxismo-leninismo. Sem dogmatismo, claro. Precisamos, afinal, desenvolver o marxismo considerando os problemas da nossa época. Mas preservando seus fundamentos, que se mantêm atuais. Entendo que, a despeito de esforços nesse sentido, estamos deixando a desejar (e isso é também uma autocrítica).
O PCdoB não é um Partido do sistema, mas da superação da ordem vigente, da ruptura, das transformações radicais. Nosso lema, tão utilizado em nossas propagandas tempos atrás, precisa voltar a ser "o Partido do Socialismo". Falar de revolução. Não com o voluntarismo de quem acha que ela já está posta pro dia de amanhã (quem dera) ou ignorando as tarefas da ordem do dia, como lutar pelo êxito do governo Lula. Mas ciente de que nosso horizonte vai muito além.
Finalizo com um adendo personalíssimo: nesse mês de fevereiro de 2024 completei exatos 20 anos de filiação ao Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. Foi a decisão mais importante que tomei em minha vida - à época com 16 anos de idade - e da qual nem de longe me arrependo.
Mas não escrevo para comemorar essa data. Embora me esforce pra ser um bom militante, entendo que não possuo, nessa trajetória, nada de maior relevo a ser destacado. Em um Partido como o nosso, homenageados têm que ser os homens e as mulheres que semearam a lavoura em tempos muito mais difíceis. Aliás, dentre muitas coisas que devo agradecer ao PCdoB encontra-se a oportunidade de conviver com gente de estatura elevada. Camaradas que enfrentaram a clandestinidade, as torturas e as ameaças à vida e ainda assim seguiram na luta. Não chego nem a uma milimétrica fração da qualidade de um Haroldo Lima, por exemplo, pra não ter de citar centenas de outras e outros.
*Militante do PCdoB. Atualmente integra seu Comitê Central e é Secretário de Movimentos Sociais do PCdoB na Bahia.
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