Pego o baralho de tarot, tiro cinco cartas dos arcanos e ponho sobre a mesa, e todas me dizem sobre esperança. Quase que semanalmente é assim. Já não sei mais se é esperança o que tenho ou se é tudo uma fantasia. Especulações que saem da minha imaginação.
Eu, como taróloga, tenho a responsabilidade de esclarecer, levando clareza ao consulente, mesmo que doa, mesmo que o incomode. Algumas vezes eles saem frustrados, chateados. Outros, eu não sei dizer, se engolem a verdade nua e crua e seguem com a vida, ou se fingem de surdos.
Dizem que conhecimento é poder, mas também é frustração. Quando temos o conhecimento sobre uma determinada situação, acabamos estarrecidos. A venda que tapava os nossos olhos, muitas vezes já não existe mais. Quem é que tem essa coragem de encarar o tarot e perguntar se fulano está sendo fiel na relação? Muitas vezes preferi ficar na ignorância do que o conhecimento, pelo menos teria me poupado de me machucar antes de acontecer.
Às vezes, quando tiro as cartas e pergunto sobre aquela pessoa, me questiono se não estou sendo como os consulentes que atendo no dia a dia. Fico em dúvida se não estou em um devaneio, criando uma fábula na minha imaginação, ignorando os pequenos sinais de realidade. É essa a pessoa que eu quero mesmo me relacionar? Ok, o tarot diz que a possibilidade existe, que os caminhos estão abertos, mas... Será que há amor da minha parte? Será que tudo que eu sinto não passa de uma mera vontade, um desejo passageiro? Muitas vezes os consulentes esquecem de fazer essa pergunta para si antes de entrar em uma consulta. O desejo sempre fala alto.
O desejo... Ah! O desejo. Facilmente confundido com afeto. Dizem que eles andam numa linha tênue, mas são distintos. O tesão passa quando saciado, o amor continua... mesmo na segunda-feira, após a ressaca.
O desejo é semelhante a comer aquele doce que você está morrendo de vontade e não encontra em qualquer supermercado. Assim que o encontra, compra, sacia sua vontade, provavelmente que depois já não queira mais. Você já saciou. Foi o suficiente. Isso se chama desejo, tesão.
Diante de tudo isso, já não sei mais se o que sinto é amor. Não sei mais se virou rotina perguntar sobre essa pessoa no tarot, não sei se o que sinto é apenas tesão, amor ou uma simples fantasia. Perguntar às cartas sobre tal pessoa é sinal de amor?
Acredito que hoje estou como muitos dos consulentes que me procuram: perdida! _
Emanuela de Sousa Quintaes é de 1991, nasceu em São Paulo e desde criança teve gosto pela arte. Fez teatro ainda na infância, mas foi na escrita que se encontrou. Publicou seu primeiro livro aos 24 anos e desde então não parou mais de escrever. Em seguida publicou seu segundo livro "Coração a bordo". Hoje ela estuda Comunicação Social/ Jornalismo, e escreve semanalmente para o jornal O Destaque
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