22/01/2023

EMANUELA DE SOUSA: O direito de chorar

Por Emanuela de Sousa*


De repente uma angústia, uma inquietação. Já vi essa cena antes, e ela me não me parece boa. 

Três dias de saudade, três dias seguidos que sonho com o teu rosto. O que posso fazer? Eu me vejo sem saída, presa entre meus pensamentos, um pé na desesperança, na falta de fé. Como eu queria ter fé nessas horas! 

O que é a fé quando estamos com o choro fácil, a sensibilidade aflorada e as mãos suando?
Será que é andar no escuro, com as pernas bambas, se segurando na certeza que outrora a luz no fim do túnel vem? Já não sei… 

Aliás, como eu gostaria de ter mais certeza no futuro. Fiz uma lista modesta de metas e colei no meu guarda-roupa, publicar livros, fazer pequenas viagens, viver mais, sobreviver menos. 

Recolhi o caderno e os livros e os empurrei dentro da mochila. Para onde estou indo àquela hora da noite, não sei. Só sabia que a qualquer momento iria desabar. 

Entrei numa lanchonete e pedi um suco gelado, esparramei livros e meus cotovelos sobre a mesa, com meus olhos perdidos e cheios de lágrimas. 

"Tão bonita e chorando?" Disse o moço que passou ao meu lado, dei um sorriso amarelo de volta como agradecimento. No WhatsApp as mensagens de amigos diziam: "mas você não precisa chorar!" 

Eu preciso, respondo de volta. Seja na rua, em casa, no metrô, no trabalho. E não devo ter vergonha. 

Olho a folhinha do calendário e me assusto com a velocidade do tempo, parece que o tempo não passou, mas passou, voou.  Onde eu estava esse tempo todo? Perdida? Em que planeta? 

Não vai adiantar chorar, eu sei. Qualquer lágrima que cair não trará alguém de volta e nem  solucionará problemas com minha insegurança, mas deixará um lembrete que sou humana, eu posso desabar e não tenho obrigação de engolir o choro, nem ter esperança o tempo todo, uma horas as certezas e esperanças irão sumir, como foi o caso de hoje, mas que bom que ainda tenho a certeza que uma hora elas voltarão.

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*Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do Abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela hoje é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias. 

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