Por Thalia Torres*
A água que desaparatou o mundo está na água-utopia, água-comuna, água-guerrilha, que se encontra nos córregos interinos que lavaram a moral dos homens que vendem o mundo a troco de moedas e fichas simbólicas, que desempenham todos os seus esforços, apostando nos homens vazios de acúmulo. No outro lado, a água que seca nos desertos-da-vida e se faz, a nascente no ser...
Águas que banham o mundo, que banham o tudo, água maleável, água costeira do mar.
A nascente como papoula da água, água-da-terra, água-forte, água á risca, água-volume,
água que nos desagua em si, ensurdece os oceanos, a água-perfume...
Água que pode se irromper num jorro que se abre na superfície da terra,
do mundo,
dos sonhos,
água que mexe, água que ferve, água que borbulha,
água que preenche os cavilhos-da-vida, água que inunda.
Água que enlouquece, água que desavexe o avesso profundo,
água tranquila, água-marítima, água-maré,
água que flui como o sangue que interliga o absurdo, a vitalidade dos homens,
água que emerge, água que esmurece, água que não se esqueceu
de cobrir o mundo, no tecido axiológico da humanidade.
Água que faz o meio, a que meio ela serve?
Será o meio do meio? Ou somente o meio a descreve?
Água que escorrega de si, do vazio social que te ocupa,
água que desce, água que sobe, água que murmura.
Água que destina, água que insiste, a água que acumula, água que revitaliza, água que ultrapassou os córregos do mundo, lavando as esquinas-da-vida.
A água que desatina, é a água-película que se verbaliza.
Água que subdivide, água que espelha os olhos, água se desilude,
água fraca, água fina, água forte, água rude.
Água que beira os rios, as grutas, os anjicos, água-morte, água noturna,
água fria, água morna, água limpa, água suja, água-viva, água-nua.
água-gira, água-roda, água-vento, água-tempo, água-vida, água-rua das águas que se desfazem nas águas desnundas, água-solitude, água-do-ser, água moribunda, água-saúde.
Água que afunda, água que mareja, água que despeja, água sereia,
água que que fere, água ferida, água doce, água amarga, água vivida, água-contínua, água conflito, água solene, água conjunta, água-motivo,
água diversa, água-cultura, ruptura, água-conflito.
Água tininda, água-luta, água lúcida, água finda.
Água dos ventos, água sem tempo, água de lua,
água dos jovens, água dos velhos, caricatos,
água de-divinos-olhos, água dos cegos, água dos sábios.
Água do ontem, água do hoje, água ondulada,
água passante, água-passando, água passada.
Água sedenta, água tormenta, água serenizada, água dor, água sal, água sol, água destemperada,
água conserva, água eleva, água-reversa, água molhada.
Água moderna, água sincera, água infratora, água indevida, água gelada,
água modesta, água banida, água rasteira, água sofrida, água perene, água atrevida, água exilada.
Água que molha os rumos, molha as cartas, molha o fundo, molha a vida, molha a alma, molha o frio, molha a saudade, molha a rotina, água que invade.
Água que molha os turnos-do-dia, água das noites em penumbras que molham o fio-descapado-da-vida, água-curto-circuito das causas internas, água da incerteza do amanhã, água-divã das águas-lembranças de águas-querelas.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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