De todos os sentimentos mais inescrupulosos, esse tem sido o mais abjeto.
Não sentir nada...
De todos os vazios, nenhum deu conta de suprir o oco da tua ausência. A agonia do teu silêncio me atrai.
De todo o sangue que escorre da carnificina da alma, nenhum me foi tão antropofágico, nenhum me custou tão caro quanto o teu querer. Quebrou-me as pernas, partiu-me ao meio.
Os bons poetas dizem que levamos a quilo o preço que se paga, há outros que dizem não devemos nos reduzir ao amar, pois o exercício de quem ama não deve ser maior do que quem ama, que o endereço do destinatário não limita a correspondência.
Te amar foi um dom que me negasse de herança. Não podia te sentir amor sem antes te sentir medo. De modo que te amei com coragem, com voluptuosidade, sem antes contestar o teu querer. E esse foi o meu erro. Não investigar o campo propício, ignorar os sinais que a tua alma me enviou, insistir em nós foi o maior crime que puder cometer.
Raskolnikov andou longe....
Eu temo dizer que nunca senti o seu amor, mas não temo dizer que este nunca foi o suficiente. Não sei se me consola ou se me deprime saber que amei por nós dois. E o tempo transformou em cinzas o que se mostrou sólido no princípio....
A rotina-dos-tempos me corrói e já não há ambições, só há ressentimentos em nossos corações. De modo que, agora nossos ventos, agora sopram em novas direções. E ainda estou aqui queimando as cartas, lavando as mágoas, devolvendo os quadros, os anéis guardados, incinerando a memória do que em vida fomos ontem, me desviando dele (ontem) como se fosse o viver de novo amanhã.
Atrás da costa estante, beijos, cartas, escritos e amoletos, segredos abandonados ao mar-do-fomos. Acima, na superfície, guerreiros desarmados não irão mais lutar contra o abate dos dias por esquecimento, na margem, do outro lado, o vagabundo esmola pela rua, vestindo a mesma roupa que foi sua, se perguntando em lamúria onde está? O que foi feito do amor? Que nos seduziu, e nos separou, que nos comprimiu e nos machucou.
Se transformando nas enquetes de Nova Orleans, em memórias-póstumas, fotografias que amarelaram o tempo de tudo o que não se movia, restando uma fina película que impregnará sobre a camada dos anos de futuro que a gente merecia, naquela estação, naquele cais, entre rimas de ventos e velas, entre vidas, na esquina-da-vida, que você teimou em cruzar.
Me revirando de dentro do avesso, de ti para fora, é lá dentro que eu pereço como uma fina e rebuscada memória, como uma frase não dita, o olho por fora, o dente por dentro, arestas do que foi nosso amor na boca do vento, uma dor, uma luz, um ressalte, uma cor, um lamento, o meu riso na cara do tempo.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
❤️ parabéns
ResponderExcluirObrigada, querida! Obrigada! ♥️
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