11/11/2022

EMANUELA DE SOUSA: Caixinha de memórias

Por Emanuela de Sousa*




Já não lembro como são teus olhos, não lembro do tom da tua voz e nem a cor dos teus cabelos... o teu gosto nunca provei. 

Como o tempo é poderoso... mas em contrapartida é periogoso e prepotente. Capaz de nos fazer esquecer o sabor das coisas mais belas da vida. Roubou lembranças tão minúsculas, mas perfeitas. Até um tempo atrás, conseguiria fechar os olhos e ter a imagem exata dos teu semblante. Hoje preciso resgatar na caixa da memória a sensação do seu perfume, o timbre da voz e tuas manias. Nessa noite mesmo, no auge da teimosia resgatei a última foto que tirei sua, enquanto tu se distraia. 

Será que tu ainda lembra como eu era? Será que ainda pensas em mim?Lembra da minha voz, dos gestos que eram tão meus. Questiono no verbo passado pois hoje sou outra, minha querida, já não somos mais as mesmas pessoas, confesse.

O tempo é veloz, nos envelhece, a memória vai encurtando, mas não te preocupas, consigo lembrar das datas, do dia exato que trocamos mensagens,  das suas gentilezas. Por isso, irei abrir na memória uma caixinha somente com lembranças tuas, prometo jogar fora as suas mancadas e guardar de ti tuas maiores virtudes. 

Caso pensas ainda em me procurar, estarei dançando no bar ao lado da sua rua, o mesmo de sempre. Só não procures em mim a mesma que tu conheceu há meses atrás.   

Faço das palavras de Camus as minhas: Nunca te esquecerei. Minha memória será mais longa do que a minha vida.

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*Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do Abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela hoje é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias. 


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