A poesia é o mundo mudo cheio de silêncio que fala...
A poesia torna poeta, toda alma que toca.
a poesia é tirana de si, e asseguradora do mundo;
a poesia é o transpassar entre as cortinas do íntimo,
entre o fígado e o tecido, do transpassado moribundo.
A poesia é a necessidade que o vento tem de renovar o ar.
a poesia é uma mistura de tristeza e saudade de tudo o que o mundo nunca prometeu;
a poesia é um corpo escupido no tempo e esquecido em algum lugar;
a poesia é marca de tudo o que se cria, e na natureza, o pouco que se transforma;
A poesia já guiou as mãos do mundo, hoje ela o transpassou.
a poesia salva, mesmo no ato mais impóstumo, impossível de solidão que nos perneia;
a poesia é martelo de carne e de sangue que esculpe o mundo e os seus apetrechos;
de tudo o que o ensaia, de tudo o que o mundo, desamasiadamente-mundo;
A poesia se banhou sobre o resíduo das amarras do ser.
a poesia foi o egoísmo elucidado do querer, espinho travado entre ver e não ter;
melodia sofrida, música sentida, ferida festiva, dúbio prazer;
A poesia se aguenta consigo até onde se pode;
a poesia é um detalhe presente no assoalho, na madeira, no entalhe;
a poesia empoeira o tempo, se renova, se degusta, se prova;
A poesia dar vida as primaveras, aos outonos, dar voz ás pétalas,…
de modo que, a poesia também é um cantil de palavras secas, converge toda lacuna ao centro,
agenda a chegada, o fim dos casos, e edifica os abandonos;
A poesia catre o amor mais inerte, e o converte ao esquecimento;
a poesia acompanha as palavras em lágrimas,
dando o direito de chorá-las a quem não tem,
a poesia jorra versos que se mutilam no ar, que se ferem,
que já se romperam ao salto, aos olhos da vida, que se espatifaram ao chão;
A poesia é megalomaníaca. Sai de ti, sai de mim, menos do eu poético que a descreve;
ainda que ela corra, nunca me tira, nunca me salva,
desse trocadilho, dessa amarra, dessa gangorra;
A poesia não tem sala de visitas, a poesia é o oco cortante, no avesso do mundo;
vive sempre ás escondidas, é efêmera, contida, na garganta do fosso,
se alimenta de doses da vida, todos os dias…
morrendo um pouco.
Solidez….
A poesia é dor, é dádiva, é morte, é vida,
matemática-reversa-do-sentir, sem divisa;
a poesia é Relga, é Olga, é Calígula, é Narciso;
a poesia é o ressoar dos sinos que destoam os destinos da vida, é a vitrine, é o muro,
é cerca que divide os desocupados dos caos;
A poesia é o cabeirão no corpo de todas as mortes;
a poesia é ferro, é leixo, é fratura em queda na escada do querer,
rompe todos os ligamentos, resfriando o lamento que o mundo causou;
A poesia é como apreciara Bukowski; é mesmo uma “canção dos diabos”,
é jacobina, é girondina, é orgulho-francês guilhotinado, é com toda ênfase,
o muro que polarizou a grande Berlim, é uma guerra no estopim, sem sequer aliados;
A poesia ora é humilde, ora arrogante, noutra intelectual, reverberas semi-analfabeta,
um tanto disléxica-funcional do ser, é ignorância que se aprofunda,
assina o nome sem traduzir os sentires que usa;
Ora, contudo, ela revela uma versão nem um tanto clara, mescla, obsoleta,
fora dos termos, padrões, ela é a contracultura em vestes vulgares, barata,
ora precisa ser sentida, ora precisa ser exilada, é palpável a olho nu,
mas atrás de horizontes crus, sua melhor versão de si, como bem tinta um poeta,
está escrita em guardanapos, sob as mesas do boteco da vida,
quando o céu já escureceu e, ninguém mais estã são.
A poesia é póstuma, efêmera, passageira, é vária e por vezes, temporária.
Nunca é e, sempre está.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
Uma pedrada no despoeta
ResponderExcluirEsse poema me tomou por inteiro. Que lindo e potente!
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