O pensamento, esse que é o senhor das horas, escravo do tempo, mãe da saudade, a maior cegueira da vida. A arte de pensar como uma forma imprescindível de se perder num tempo que não mais é válido nem para si mesmo.
Escrever sob á tinta da saudade é desenhar os murmúrios do mundo sobre o fórum da lamentação, o grito rouco de um mundo que perdeu sua mocidade.
A pergunta conflituosa; o que é afinal a juventude? Uma banda numa propaganda de refrigerantes como dizia os Engenheiros do Hawaii? Uma passagem turbulenta de confusões e delírio? A juventude é a febre-da-alma. É a luta viril entre o que ainda não se perdeu e o que não se pode mais ter.
Pois, vos digo que, a juventude é a enzima que vive sob ás cinzas das horas, sob os anseios do tempo; rasurada de tédio, vive sob ás páginas dos livros, os quais a humanidade engavetou.
A poesia contida nos tempos de juventude é a linha divisória da lucidez. De modo que, esta elide a existência dos outros trilhos da vida. Elidindo o homem do objeto, elidindo a alma do corpo, a verdade dos olhos, o vinho do cálice, a melancolia do clima, a bula do remédio, a doença da cura, a política da construção, a cegueira da razão, o tédio da monotonia.
Acontece é que, quando chegam as percas da vida, não se tem mais o que elidir, porque essas (percas), impregnam-se nos ossos, nos músculos, tecidos e células. Quando já não se tem mais onde se impregnar, transcendem ao mundo.
Um mundo que protela a falsa felicidade de um mundo consumista, veementemente, vazio. Um mundo que reflete a ameaça de inferno e o suborno de um paraíso globalizado, o mundo do reflexo de um espelho de Ojesed, que apresenta seus mais profundos devaneios, numa intimidade pública daquilo que se perdeu, ou que nem se chegou a ter; um mundo tendente a loucura.
Um mundo que esvazia a vida, a existência, a crença, a fé, que esvazia o tempo a troco de nada. Um mundo que protela a significância da existência em troca de algumas moedas. Um mundo que nos transformou em mercadoria, que passou da balança. Onde tudo o que ainda nos resta é o peso de nossas próprias cabeças.
Um mundo de ‘conectividade’, ou como diria Huxley: o admrável mundo novo! De novo tectônico, mas sem humanidade. Um mundo de informação, mas desprovido de alma. Um mundo das grandes corporações, do grande lucro, das grandes guerras, dos genocídios, do assassinato das condições materiais imateriais da vida em seus mais variados e demasiados aspectos.
Um mundo que perdeu a guerra contra si mesmo, um mundo que se debruça sob os próprios escombros. Um mundo enfim, que está afundado em frustrações.
Talvez um mundo melhor para alguns otimistas, um mundo que amanhece em ameaça ao sonho tradicionalista do que foi o ontem, um mundo nostálgico de melancolia, um mundo que reverbera, um mundo que abraça em desamparo, um mundo que se tornou sólido e se desmancha no ar, um mundo que permanece no tempo, virando poeira.
Um mundo viril, enevoado, carregado de tecnologia, mas inumano.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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