O ato de pensar como a arte de exercer um movimento deliberado das dores que expressam o mundo. Até mesmo quando este, não nos concede espaço...
A arte de pensar como prêmio-do- tempo, que fora concedido aos ansiosos da vida, na promessa de que esse, já não pudesse passar, tirando o tempo de tudo o que é perecível;
Arte de pensar como o mais conflituoso dos pensares, sendo a verdade-amiga das horas, carrasco e algoz dos que pensam; tal qual Djavan, o pensamento como um lobo, correndo em círculos pra alimentar a matilha, sendo esse lobo, o lobo do próprio homem, tal qual diria Hobbes, sentindo sempre que falta um pedaço;
A arte de pensar tem fome, fome de agonia fome de medo, fome de angústia, fome de Caetano. De modo que essa, agora tem fome de tempo, tendo fome até de si mesma. Não obstante, tem fome de cores, fome de formas, fome de métodos, é morte súbita, irreversível, teórica, fome de outras reverberas;
A arte da verdade de pensamento como um auto-espelho-de-Ojesed, desvairado pelos própios desejos e mais profundos devaneios, diluído pelo tempo e, fingindo não ser um dos cacos, negando estilhaços, que está ao meio, numa intimidade pública, carregando sob á espinha dorsal do tempo, seus devaneios, desvarios...
A arte de pensar como a fúria contida do mundo explicado por Maus na expressão obrigatória dos sentimentos, é a vida, é a morte, o infortúnio dos desatentos, é a transfiguração do tudo e de todos, materializada na pálpebra, na ponta, no gelo do mundo-da-vida, em frio-lamento;
A arte de pensar além do bem e além do mal, estornando, erradicando a moral, burocratizando o ressentimento; a arte de pensar como a terceira lâmina que penetrou a derme do mundo, inundando este (mundo), feito fosso, na pele, na voz, no estigma, na fome do povo, no avesso profundo;
A arte de pensar a partir da matéria que constitui esse mundo, como uma forma de se sobressair no que neste, nos angustia. Pois, o mundo é esse monstro, esse aglomerado de frustrações baratas, que trocam o preço de nossas cabeças num punhado de códigos, de fichas, o esquema simbólico que desapropria a vida;
A arte de pensar um mundo que se perdeu, e que se mutilou, mas que se reproduziu a partir da ideia de que as percas, são em suma, as intermitências-do-tempo, e o tempo, esse não pára; selando as dores de outrora, e as tornando em cinzas para outras novas dores; como diria Manuel Bandeira, nas cinzas das horas...
A arte de pensar como projeção a uma espécie de mundo que mais objetifica o indivíduo pensante, que o liberta de suas limitações. Tornando assim, o mundo-do-pensar, um mundo preso a outro mundo não muito distante que acabara de passar. Um passado-eterno que mais parece insaciável, tampouco animador. Entretanto, um passado recheado em consolação e espaço para as novas mentiras que espelham o futuro;
A arte de pensar converte o homem-do-hoje á sombra obsoleta de seu passado, negativizando qualquer resquício de sua desenvoltura a um “novo tempo”, que alimenta os homens-do-futuro a partir do que estes, entendem pelo ato de pensar e deliberadamente existirem ( diria a estética cartesiana); é essa arte que faz a de pensar o mundo, a vanguarda precisa para os “novos bárbaros”, os homens-do-futuro-pensante, recheados de viril-passado;
A arte de pensar como exercício de preencher o mundo de vazio (mais do que esse mundo já é). Pensar como forma de entender que esse mundo-pensante é a mescla de um mundo pensado apenas para a loucura convencional; onde tudo o que nos resta é a lucidez de exercer em si, um mundo-não pensante;
A arte de pensar estrutura o ser, nos confins de nosso íntimo, somos fragmentos do que pensamos, a partir do que abstraímos do mundo; uma ação sobre a matéria que torna esse mundo vivo, mais vivo e real que a nós mesmos; transcendendo uma autenticidade que é mais do mundo do que nossa.
Nos configurando a ideia tola de “subjetividade”, quando na realidade, temos menos de um por cento dessa “autotutela”, dessa capacidade de escolhas. Isto dito, porque a arte de pensar transformou o mundo neste tutor, nos submetendo o preço de algumas moedas, o peso de quem realmente somos, no balcão financiado da vida.
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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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