Por Rikelmy Regino*
Em 2019, Luxemburgo deu uma entrevista no Programa Bem Amigos da SporTV, em que
afirmava que o Flamengo de 2019 não seria mais novidade para os demais times, pois saberiam
como jogava o Mengão. Em seguida nas redes sociais sugiram posts relatando que, ao tomar
conhecimento dessa colocação do Luxa, Jorge Jesus teria dito “Enquanto eles sabem as
respostas pra 2019, eu trago novas perguntas pra 2020”. Verdade ou não, o mister ou quem
quer que tenha inventado essa história, estava errado.
Por mais irônico que pareça, as respostas para resolver as inconstâncias do rubro-negro estava
justamente nas perguntas de 2019, e o motivo? Os times brasileiros não souberam respondê-
las. Mas agora deixando o jogo de palavras de lado, vale entendermos como, de fato, a
identidade tática é importante para a manutenção dos resultados, cabendo até ressalvas de
como o resto dos clubes não assimilaram que o futebol agressivo, intenso e ofensivo, deveria
ser a base para qualquer planejamento tático.
Para início de conversa, voltamos para o começo da temporada de 2020, quando de forma
abrupta o técnico português Jorge Jesus se despede do Rio do Janeiro e embarca rumo a Lisboa
para treinar o Benfica. De antemão a diretoria do Flamengo deixou claro que não estava
interessada no mercado nacional, o alvo estava lá fora, e então o rubro-negro anuncia o catalão
Domenéc Torrent, discípulo de Guardiola, com feitos recentes nos EUA, chegava para manter o
domínio do Mengão. E é aqui que começamos entender o motivo da queda de rendimento do
time.
A adoração ao ideal tático estrangeiro havia sito tão fortemente aceita que ofuscou um fator
primordial: a continuidade do trabalho. Pois diferente do que acreditava o ideário popular,
Dome não vinha para fazer como JJ, mas como Dome, e tal qual todo novo projeto, necessitava
tempo, peças e muita paciência, acontece que a massa flamenguistas estava “mal acostumada”,
além das vitórias em sequência, o time deu um salto enorme e em pouco tempo, daquilo que
jogava com Abel Braga, para o que fizeram sob comando de Jorge Jesus.
Com tempo, a tolerância do torcedor esgotou, a pressão subiu e Dome pediu demissão. Não
tardou para que um substituto em solo nacional fosse cogitado, a rápida desilusão com
treinadores gringos fez com que Rogério Ceni assumisse o cargo, vindo de um ótimo momento
no Fortaleza, Ceni discursou bem, prometeu a nação flamenguista que iria retomar aquele
futebol de 2019 e como jogava o Flamengo de Jorge Jesus. E assim como seu antecessor, falhou,
pois Ceni pensava como Ceni, enxergava o futebol de uma maneira diferente e a pressa da
torcida diante de um elenco com potencial, mas que expressava um futebol muito abaixo, foi
fatal para Rogério, e mesmo com o título do Brasileirão e da Supercopa do Brasil, foi demitido.
E finalmente chegamos a Renato Gaúcho, o “renatismo” ganhou o coração do torcedores do
Mengão, mas não foi atoa, Renato fez o óbvio, não formulou novas perguntas, mas se rendeu
aquelas que nem ele mesmo soube responder enquanto treinador do Grêmio, a linha de
marcação alta, com os quatro homens de frente marcando a saída de bola, junto aos encaixes
nas linhas de passe e um time agressivo na recuperação da posse de bola, algo que não
disfrutamos no Flamengo de Ceni, por exemplo, que insistia em fazer o time defender em bloco
médio, dando o espaço que o adversário queria.
Outrossim, tivemos a volta de Arão ao meio campo como 1° volante , fazendo saída de bola,
protegendo as costas dos seus companheiros, buscando sempre o passe que quebra linhas de
marcação, talvez sendo o atleta de mais importância dessa mudança, pois voltou a exercer uma
função que domina muito bem e indispensável para a pressão e recuperação da posse, ao lado
dele, Diego, o 2° volante com mais liberdade para encostar nos homens da frente e armar o
time, aumentando o potencial ofensivo da equipe, diferente do Thiago Maia, que por vezes
ocupava o mesmo espaço que Arão. E na última linha, Felipe Luís e Isla garantem a amplitude
do jogo, além da postura de alas conscientes de onde devem estar e da profundidade que devem
proporcionar, e na cabeça da área, seja qual for a dupla de zaga, a solidez defensiva está
garantida, além do avanço com a bola dominada, lembrando os tempos de Rodrigo Caio e Mari.
O ponto chave da questão é entendermos a importância da manutenção da identidade tática
do time, tanto na prevalência e constância dos padrões e métodos, como na postura. Domenéc
e Ceni não estavam errados na forma que enxergavam futebol, mas não eram compatíveis com
o Flamengo, e para um time que busca a hegemonia, não havia tempo para um processo
adaptativo. E calma torcedor, isso não é exclusivo do Flamengo, o mesmo ocorreu com Santos,
quando depois de perder Sampaoli, contrata o português Jesualdo Ferreira, cuja proposta de
jogo, era muito diferente daquela do argentino. Por fim, para manter a coerência na opinião,
adianto que chegará o momento de Renato impor a sua visão de jogo, mas o seu acerto foi no
começo, não iniciou a caminhada do zero como seus antecessores, mas voltou para o ponto
onde estava dando certo, e aos poucos deve ir testando outras alternativas. E assim sendo, agora
nos ressurge uma pergunta: como parar o Flamengo?
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*Acadêmico de Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Comentarista Esportivo.
Um fator que acrescento ao teu comentário na parte da explicação do sistema tático do Flamengo que foi recuperada de 2019 é a de fome de gol e constância física/de rendimento. Existem alguns times que podem bater de frente com o Flamengo (a exemplo: São Paulo, Palmeiras e Atlético Mineiro) mas, esses não conseguem manter a equivalência durante todo o tempo do jogo, desse modo, explica-se alguns resultados adquiridos nos minutos finais (a exemplo; o título da Libertadores em cima do River Plate - ARG, dentre vários outros em outros campeonatos) e alguns placares elásticos como aconteceu algumas vezes. Mas de resto, concordo com a tua análise em muitos aspectos.
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