18/06/2021

THALIA TORRES: A Crise nas Instituições Morais e o Fascismo Medíocre do Bolsonarismo

Por Thalia M. Torres*


Durante todo o processo da contemporaneidade, destrinchar os processos democráticos no mundo, 
para grandes pensadores, tem sido um desafio incessantemente inquietante. Tomar o conjunto de 
transformações políticas como conceito de análise, bem como o 'processo para o progresso', se 
assim, pudermos intitular o processo democrático, se faz uma tarefa desafiadora e um tanto 
instigante. No entanto, por quê não cessarmos a análise de progressão futura desse processo, e 
repararmos no fio condutor que vai de contramão á marcha irrefreável para o futuro igualitário? 

Um fio que a ameace. Que ameace ás suas instituições e diretrizes, e jogue toda uma concepção e 
construção histórica da humanidade no que se diz respeito o seu diálogo de saberes, da 
construtividade de conhecimento político-histórico-humano. De todas as extremidades do espírito
humano, nenhuma deu conta de explicar, uma ação deliberada de sentido, onde a estrutura e 
condicionador operante seja o fascínio á intolerância e opressão. O fascismo. Nada deu conta de 
nos sequer metaforar no que consista a palavra "fascismo" para além de seu significado, que deriva 
de uma antiga expressão latina, fascio que denominava o feixe de varas carregadas pelos lictores, 
na antiga Roma.

Denominamos de fascismo, algumas vezes mais corretamente no plural – fascismos –, o conjunto 
de movimentos e regimes de extrema direita que denominou boa parte de países europeus desde o 
início do século XX. A denominação genérica fascismo decorre da primazia cronológica do regime 
italiano, estabelecido no poder em 1922, constituído em movimento político de identidade própria. 
Isto dito, não nos cabe aqui, fazer rodeios sobre o que vem á ser fascismo, ou, pelo menos, não 
apenas no seu direcionamento semãntico. Contudo, o que podemos compreender, através destes 
eventos que centraram o palco histórico há algumas décadas, é perceber como tais fatores 
estruturais que possibilitaram que estes eventos acontecessem, na verdade, não estão longe de nós, 
da contemporaneidade e engendramento moderno.

Para além de movimento, o fascismo é um fato social que não está interligado ás contradições
modernas, isto é, em toda, ou, em qualquer sociedade, pode se reproduzir, assim como algumas
outras fenomenologias construídas política e socialmente. Analisar o fascismo em contraste com
o processo democrático, é um complexo-digerir, ou um 'banho de água fria', porque ao mesmo
tempo em que se observa o feixe de um processo progressivo que caminha irrefreavelmente para
o futuro, tem de observar a linha que vai de encontro a sua própria contrariedade, nos alternando
á uma espécie de 'passado eterno', que pouco se cansa de nos acompanhar, digamos assim, aos
sábados de verão na alvorada belle époque, no pós-guerra.

Dado enfoque á toda essa ação discursiva de caráter introdutório, foquemos num processo histórico
específico, nos grandes trópicos, como diz Jorge Ben Jor: 'abençoado por deus, e bonito por
natureza', a singularidade política brasileira. Que desde seus primórdios, forjou a formação do
Estado moderno, dentro de estruturas simbólicas de ordenamento político-social, a grosso modo,
sob o alicerce do patrimonialismo, driblando suas contradições históricas, com seu jeitinho, como
diria Da Matta.

Não poderia ser diferente, nos seus duros períodos militares. O Brasil é filho bastardo do
autoritarismo x oligarquismo. É avô solene do ostracismo ultramilitar. Corre em sua veia
autoritária, o mesmo mal que corria há 300 anos atrás, agora convertido num "desejo novo" de ser
mais do velho. Isto é, de trazer uma nova ordem á desserviço social, á qualquer chama de
civilidade. Esse sangue mandonista que circulou todo o tráfego sanguíneo-político brasileiro, se
transformou numa "querela" num desencaixe para saltar para o processo moderno sem se
desprender do passado não muito distante.

Se transformou num fascismo medíocre e, pouco didático. Fascismo esse, que assola o Brasil dos
tempos sombrios de ditadura militar, ao fetiche tolo e hostil do bolsonarismo. O que alimenta esse
fenômeno no Brasil? Ainda são suas frases de efeito durante a campanha? Suas atitudes
irresponsáveis e despreparo diante da maior crise sanitária e recessão econômica da história do
país? Ou seria seu perfil opressor nada ostensivo e vazio de sentido? São muitas as perguntas e
complexa a compreensão plausível de situcionalidade política brasileira.

Parece difícil acreditar que um governante de currículo militar pouco promissor e baixa capacidade
de raciocínio, pudesse ser um transgressor á frente de um dos países politicamente mais complexos do mundo. A democracia, só esta tem uma façanha incrível, um poder de resolução inimaginável
para o "embaçamento" político que assola o Brasil e o mundo. Só essa, carrega em sua
epistemologia, o desempenho capaz de alavancar os motores de ascensão política e ressurgimento
social, até mesmo para aqueles que são em carne, a sua contradição. O autoritário. O fio condutor
que não se encaixa aos parâmetros da plenitude minimamente morais de exercício do bem comum.

São muitas as problemáticas para a consolidação de um fascismo confuso e amedrontado, o de Jair
Messias Bolsonaro, e seus seguidores fiéis, no que consiste em seus 30% de aprovação política
irrecuperável. O que levaria alguém a entrar neste barco pronto para o naufrágio político em suas
próprias ideias? É sempre positivo ressaltar que, acima de tudo, a política, ou melhor, é, antes de
tudo, uma construção humana, atribuída de sentido histórico-simbólico, onde ás condições
materiais de existência, nos remetem ás querelas daquilo onde nossas premissas particulares
sonham e fazem do mundo.

Existem muitos motivos e circunstâncias para alguém defender o indefensável, defender o retorno
de um passado sombrio pouco distante, a quem acabamos de nos livrar. Existe o princípio de
classe, este estará sempre á ordem universal de continuidade humana. Existe o princípio de fé,
onde existe uma abstração de entidade superior que vai ser a largada para a corrida de justificativas
para outros princípios. Bem como, também existe o principio natural, o princípio de cultura, que
consiste na soma e permanência que estruturam toda uma conduta.

De todos estes elementos citados, se pergunte quanto destes o fascismo pela história adotou e se
estruturou? Todos! Todos esses elementos, em nome da reindivicação simbólica monetária (o
capital), em nome de Deus ou figura que traz em si, um elemento paterno e pastoril (fé) e em nome
da dimensão étnica (cultural) o fascismo se justificou. Não obstante, a ideia de que no Brasil, fosse
realmente diferente. Mais ridicularizado que aquecido, o fascismo bolsonarista se sustenta a
reprodução da desinformação do mundo. Da vaidade política da elite e do punitivismo-coletivo de
seus seguidores.

Ser bolsonarista no Brasil, acomete á luta simples, direta e aberta, a combater o que não existe. O
comunismo. Tornando assim, uma briga fácil, em que não se precisa de adversários, mas da
abstração destes. Assim, ganha-se tempo, combatendo o vazio, dando socos ao vento, empurrando
projetos criminosos á escancares populares. Ignorando a ciência, combatendo á diversidade e pluralidade política, trazendo dentro do elemento de que entendem por "comunismo", o combate
á arte em suas demasiadas instâncias, o não-combate ás diferenças sociais e outros grandes
problemas que são estruturais no país. Com o conjunto de ações que enfoque um inimigo comum,
se torna fácil de "passar a boiada", de velar ás impurezas de espírito político que é intolerante não
apenas aquilo que não lhes convém, mas a realidade em geral do mundo distópico.

O bolsonarismo no Brasil não necessitou de opositores, de modo que este, é seu próprio adversário,
o seu algoz. Não existe oposição política ao extremismo, de modo que este (extremismo), extingue
qualquer possibilidade, dado o fato de terem a característica e tradição de não a reconhecerem.
Negando a legitimidade e existência de opositores. O Bolsonarismo falhou até como fascismo,
atendendo á uma demanda política autoritária pouco didática, mas que não deixa de ser uma
tentativa violenta e incisiva de distorção da realidade. Trocando em miúdos, com ás instituições
de moralidade distorcidas, que produziu um fascismo manco, mas que rompeu boa parte do
ordenamento lógico brasileiro.


_

*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.   

2 comentários:

  1. Que texto!!!! Faz todo o sentido!!! Nem Fascismo é esse negócio... seria uma alucinação?

    ResponderExcluir
  2. É atrativo o encadeamento das ideias expostas de um conteúdo que abarca toda a pluridisciplinaridade a fim de elencar, e de conjuntura, os desdobramentos qualitativos em que o fascismo recai no Brasil ou outras democracias mundo afora. Embora o texto tenha uma carga muito requintada intelectivamente, de difícil compreensão para não acadêmicos, a análise da conjuntura envolvida é, de fato, sui generis.

    ResponderExcluir

Mais lida da semana