27/05/2021

THALIA TORRES: Dialética-em-demasia

Por Thalia Torres* 


Como os ventos que nos sopram os ouvidos, o tempo é imprescindível...

Lembranças  contidas em folhas, carregam a mescla-míope-do-tempo e ele as transforma em cinzas.

A terra pré histórica, á terra colonial, os fascismos,  ás grandes guerras, as divisas e blocos continentais, á cortina de ferro, as grandes uniões político-européias, os processos ultramilitares, a resolução do mundo contemporâneo, os passos lentos dos processos democráticos (á marcha irrefreável para o progresso), avisam á erupção de um bravo "novo mundo".... Escuta-se o tempo fluindo no mais completo silêncio.

Fica-se mais moço? Ou já não se tem cicatriz?

A humanidade se veria noutra cidade-de-pensamento ou sob ás trincheiras do inseguro-evitativo? O mar conhece as rochas e se afogar não é pecado.  A história caminha atropelando seus próprios pés. A vida é a estrada e o tempo é a linha que destina esse traçar. O tempo é inerente ao viver, inerente ao ter, inerente ao ser.  

A história patina sobre o fino gelo da vida moderna. O tempo é essa contagem ostensiva de morte cultural. O hoje converte numa perfuração humana no futuro por onde o passado começa a jorrar.
Logo tudo se inicia novamente e, tudo o que se perdeu, ainda flui. São os prêmios do tempo...

Ele flui como o sangue que interliga a humanidade, como á agua que a emerge, como o pano axiológico que a envolve. que a cobre.  Logo o tempo flui sem dor e ardência. 
Logo ele reverbera; o tempo é uma planta que se alonga mediante o sono obssessivo da humanidade.
Logo vamos para o futuro! Oh, não chores...Vamos, erga a cabeça para o procedimento do novo mundo que te abraça!

Logo vem novo conflito; A infância se perdeu. a mocidade se perdeu, dizia Huxley.  A existência continua...

Os valores mudam. Ás tradições ainda são resquícios de um mundo que acabara de se reproduzir. O capitalismo acende com mais petulância, e o tempo se torna a mercadoria daqueles que usufruem de seu privilégio de detenção. 

Para outros, o tempo condena á ação sob á matéria e cria um mundo de homens eficientes sem autoeficiência.
 
A produção em detrimento da vida; a troca da alma por algumas moedas de combinação simbólica que esvaziam o homem-de-acúmulo. Eis aqui o materialismo histórico, onde a a única dialética é demasiar-se em martírio.

Logo esse processo do "novo mundo" se inicia, e tão claro feito dia, feito uma frase que diz: "é dessa cor!" (que cor?)  Que cor e cara tem esse mundo de "meu Deus"?

Tem as cores azul, branco e vermelho que cintilam o orgulho dos franceses? Tem a bravura de uma revolução sangrenta e o caráter disinibido de uma revolução burguesa?

Ou é tão cizento quanto a fumaça que denuncia á chegada da grande primeira revolução industrial? Tão rico em minério quanto a Inglaterra no fim século XVIII, é o tempo. Este queima feito carvão....
O tempo é o feicho invisível que nos salta aos olhos;

O tempo arde feito brasa. É panorâmico, polaróide.  Apocalíptico-caleidoscópico. A busca por modernidade exerce o gás que impulsiona o mundo para o futuro recheado-de-passado. Um oceano de névoas. 

E então, o mundo já não tens roupas, e nem necessita. A vestimenta agora se prepara para violentar o gosto do antigo mundo. O mundo que não mais é meu, tampouco seu, nem sequer de si mesmo este mundo agora é. 
O mundo se prepara e larga o trampo para a hora do almoço, mas seu jantar agora é silêncio e sua fome, não come. Sinto que o tempo, abate sob á humanidade, uma aceitação maior de tudo o que lhe parece absurdo e inevitável, ele tem medo de "novas descobertas", de "novos ídolos", de "novos carrascos", de "novos mitos" e "novos mentirosos". 

O tempo tem medo da história, porque essa marca em seus extremos, á ferro quente, os seus maiores inimigos e detentores, os seu algozes. Já a história, por outro lado, teme o esquecimento, e o esquecimento teme aos fatos e estes, temem que a humanidade também os esqueça. 

 A humanidade tem de se reiventar pra sobreviver para ela mesma. 
As intermitências históricas fazem parte do "novo mundo" para o admirável mundo novo. Um mundo de lobotomia, um mundo devastado em consumo, em ansiedade, em angústias, em tristeza. Um mundo enfim, em depressão. Um mundo que adoeceu, um mundo que precisa viver, renascendo das cinzas, na perspectiva que seja este, um mundo humano-demasiadamente-humano.


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*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.  

Um comentário:

  1. Show. Me senti em meio a um redemoinho de incertezas, como quando ainda eramos aluna e professor, nos sertões do Ipu. A vida é assim, tão sólida quando o ar. E o tempo? O tempo é tudo o que importa. O tempo é nosso inimigo. E é só o que temos. Um abraço Thalia. Você me representa.

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