07/04/2021

THALIA TORRES: Substantivo-tempo

Por Thalia Torres* 


Toneladas por horas, é o tempo....
A chave que tudo guarda e tudo joga, batidas na porta, é esse, portanto, ainda o tempo,...

O mestre das aflições imediatas, dono do futuro incerto,
Ora dormente, ora esperto, rei dos trovares e das auroras;

Vinho de todos os cálices, de todas as bocas, nas cinzas das horas…

O tempo cava-cinzas sem regras, sem receio, sem alarde,
é agulha em linha firina, perfura o breve, o imediato, o que é permanente, o que é passado, e até á modernidade,

perfura o mundo, perfura cor, perfura teto, perfura gênero, perfura classe,

perfura a luta, perfura a gente, perfura os céus, perfura Deus, perfura a arte, 

perfura o humano, o semi-deus, o super-homem, perfura o frágil, perfura a fé, e a maldade;

O tempo é dor, o tempo é roda-viva,
manhã cedo passa, entre noite dignifica,

o tempo cheira, o tempo decora,
o tempo voa anterior ao tráfego, o tempo rolga;

O tempo cintila sobre as flores úmidas,
é o tempo a maior queixa do vácuo,

o tempo é uma mancha, uma sombra que se dilui, que se aniquila,

o tempo dá-se em fragmentos, ele se remoe, se retrai e se dissipa;

O tempo é o fundo hábil das sobrevivências,

é ao olho nu dos olhos uma vaidade, uma prenda,

o tempo se despenca por trás das guerras púnicas de espírito, numa costa-estante, numa dispensa,

o tempo é como diz Drummond de Andrade: "uma perna que pensa";

O tempo veda o caule, veda o vento, veda a sala, 

O tempo veda o pertencimento, a ala de acolhimento e a senzala,

o tempo apressa ás paxões, modifica os amores, eterniza o sofrimento e ainda assim não nos abala,

o tempo é calmaria, o tempo é rude, o tempo é cru, o tempo é fato,o tempo é arma de disparo á uma só bala,

O tempo é hoje, o tempo é ontem, o tempo é outro,

o tempo é mar, o tempo é vida, o tempo é osso,

o tempo é aço, o tempo é ira, o tempo é ouro,

o tempo é casa, o tempo é sina, o tempo é gosto;

O tempo rouba o dia, salva a noite, e resfria as feridas,

o tempo está sob a mesa, está sob os olhos, debaixo das oiticicas,

o tempo está sob os ombros, sob á pele, acima das despedidas,

o tempo está sob fascínio, está sob controle, está sob os livros e até nas teorias divididas;

O tempo cala as dores, o tempo cela ás idas, regenera ás voltas, só o tempo nos politiza,

o tempo é remédio, o tempo é divisa, o tempo é critério o tempo é ruína,

o tempo separa, o tempo é trabalho, o tempo é hostil, o tempo ameniza,
o tempo é calvário, o tempo é criança, o tempo é proveta, o tempo ironiza;

O tempo amadurece, o tempo emburrece, o tempo idiotiza,
o tempo busca, o tempo furta, o tempo estupra suas horas meninas...

o tempo cura, o tempo jura, o tempo inunda a verdade, e o tempo a circuncisa,
o tempo muda, o tempo ajuda, o tempo aluga á maturidade desinibida;

O tempo dura aquilo que o exercita,
o tempo passa, o tempo paralisa, 
o tempo asfixiou o que se vanglorifica,

O tempo é o orgasmo da continuação,
o tempo é fome-Urano que negou o trono á Khronos, o condenando á sua predileção,

o tempo é vasto, o tempo é mãe, o tempo é pai, o tempo é Zeus, o tempo é Régia, é greco-proliferação;

O tempo é plano, o tempo é salto, é estratégia,

o tempo é Joana D'arc, o tempo é Kratos, o tempo é Hades, o tempo é Amélia,

o tempo é o homem-lobo-do-próprio-homem, é privatização belchiorana na extremidade-maquiavélica;



*Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. 

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