Por Emanuela de Sousa*
Eu nunca sei quando é o fim.
Quando é chegada a hora de apagar as luzes, fechar as portas e me despedir do show.
Vou ficando... Confiando na minha teimosia, nos sonhos, em mensagens das entrelinhas, que são na verdade, apenas frutos da imaginação e do meu tolo otimismo.
Sei de cór o caminho que terei que seguir pela consequência da teimosia... Irei cair do mundo da ilusão e fantasias direto para ao mundo da realidade. E a queda será dolorosa, sofrida, como sempre foi.
Vou caindo...
Caindo...
Enfim, de volta para a realidade. A ressaca... Amanheci em lamento, em cólera. As únicas palavras que saem de minha boca são lamentações corriqueiras.
Fui embora tão tarde...
Eu deveria ter ido embora logo nos primeiros sinais, quando as luzes já estavam fracas, nos primeiros acordes menores.
Eu deveria ter ido embora quando tinha notado a falta do brilho nos olhos, da falta de empolgação na fala, na escassez da delicadeza... Quando não havia mais o encantamento, a beleza...
O que eu estava fazendo ali, enquanto recolhia os cacos pelo chão? Revestia minhas armaduras, brigava com o destino... O espetáculo tinha encerrado, era preciso sair de cena, se despedir da orquestra, fechar as cortinas.
Eu lutava contra mim mesma. Contra o tempo, respondi com tristeza.
Recorri ao espelho, ainda com os olhos molhados, lembrando, com desgosto, do fracasso e da falta de empatia para comigo, por ter sido a última a ir, de não ter me apressado quando chegou o fim.
Devoro o tempo, rasgo as memórias, que hoje já não são mais precisas. De joelhos, peço perdão a mulher que está no reflexo do espelho. Ponho em prática o 'mea culpa', pelo ato de teimosia, pela quase que ingenuidade de acreditar de que seria forte o bastante para derrubar o tempo. Pela insistência contra os fatos.
"Jamais desobedeça os deuses, nem aos sinais do universo..."
Mas agora eu preciso de espaço, porque tenho sentimentos e quero mudar isso. Estou aprendendo a encerrar os capítulos e a me reinventar. Deixem- me ir, hoje olhei no espelho novamente e vi o quão sou rara...
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*Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do Abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela hoje é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias.
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