Por Emanuela de Sousa*
Recolhi-me dentro de um espaço onde só eu posso ficar, às pressas. Neste espaço, alguns cadernos, canetas, papéis avulsos e um cinzero em cima deles para que não voassem.
Eu me protejo, porque já me vi escancarada demais. Me sinto nua aos olhos do mundo, me sinto desprotegida pela claridade que vem de fora, prestes à me engolir. Sinto desnuda e pequena diante daquele par de olhos negros gigantes que me vê atravessando o outro lado.
Prefiro o alento da solidão, a zona de conforto, que me leva em contato ao meu ser pequeno e frágil. Não há notícias minhas por lá, há paz, silêncio. Ninguém sabe de mim, a não ser eu mesma.
Há uma mulher independente dentro de mim que pega a estrada a noite, vai embora sem ao menos pedir permissão (eu não preciso de permissões) seguindo o farol que há em teus olhos. Existe uma outra parte de mim jovem, com medos e desejos, que se questiona do porquê eu estar fazendo isso ou aquilo.
Eu voltei para o meu lar essa noite.
Onde estava? Eu estava amando você do outro lado do mar, longos quilometros daqui. Voltei com os pés cansados, e o coração na mão.
Quem me guiou na viagem de volta pra casa? Milhares de estrelas.
Esqueça meus olhos, se eles não te fizeram se sentir única.
Deixe minha voz no mudo, esqueça as memórias, se possível, dê um nó frouxo na linha do destino.
É que por hoje estou cansada, cansada ... Cansada de ser o que eu queria para você. Pedi de volta a solidão, o vinho e o prazer que ela me causa. Não há ruídos na solidão, nem lamentações. O conforto de estar só com você mesmo poucos experimentaram.
É algo imensurável, divino.
Por hoje, Lana Del Rey ao fundo, vinho e solidão do teto ao chão.
*Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do Abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela hoje é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias.
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