Prometemos deixar saudade, mas não inovamos, queremos aprofundar nossas relações, mas não falamos sobre nossos sentimentos. por orgulho ou vergonha, acabamos na mesmice.
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Um dia a terapeuta me falou que costumamos repetir hábitos em relacionamentos, sejam eles amorosos ou não. De imediato eu demorei para digerir o comentário, precisei de um tempo para refletir e analisar com cuidado. Com o passar dos dias fui percebendo o quanto de sentido faz... Estamos sempre repetindo, mesmo que inconscientemente, os velhos padrões, hábitos, manias. Assim como quase sempre escolhendo perfis de pessoas que não combinam com a gente, quando que exigimos nos relacionar com pessoas honestas, mas, por carência, descuido ou sabe-se lá o porque, nos deixamos nas mãos de quem não foi gentil conosco nenhum pouquinho.
Sinceramente? Trago comigo um histórico de algumas escolhas que foram mal feitas, relacionamentos que não me couberam, não vingaram, porque eu fui única que me esforcei para me caber alí, no fim em lugar pouco confortável, instável, cheio de incertezas e de pouco amor... Ressignifiquei, pedi perdão a mim na frente do espelho, e foi a coisa mais pura que já fiz na vida. Pedi desculpas à pessoa que eu olhava no espelho, porque antes de ser jovem e inexperiente sou humana e estou sujeita à enganos.
Enrrosquei-me na carência por várias vezes, estacionei na mesmice. Na preguiça e comodismo me alojei em corações frios, por um tempo chamei de lar. Repeti o mesmo gesto de ser romântica, escrevendo cartas de amor, lembrando de passar na padaria e pegar um chocolate antes do encontro, de ligar para desejar boa noite. Eu deveria desde sempre aprender a não esperar romantismo de onde não tem! Afinal, são sempre as mesmas falas, as mesmas desculpas, os encontros sempre sendo os mesmos: superficiais... Amores meia boca, eu diria. Volto para casa na maioria das vezes, com a sensação de que algo ficou vago. No dia seguinte tudo fica morno, esfria, parece que nada ocorreu.
Morre alí.
Oferecemos o sexo como proposta de conexão para vínculos mais íntimos, mas esquecemos que o pilar principal para se chegar à intimidade é a conexão mental. Falar dos medos, dos traumas, das fantasias... Porque é tão dificil? Eu também quero falar das minhas dores, dos meus medos, das aventuras que vivi... Quero ter amores de verdade, daqueles que dão sede de viver outras vezes, com alguém que você pode convidar para tomar um café às 9h e na mesma noite se encontrar num bar.
Por mais amores reais no mundo com encontros verdadeiros, de corpo e alma. Menos repetições, mais inovações. Sair do piloto automático e transmutar para as sensações inéditas é o minímo que deveriamos fazer por nós e pedir à quem se relaciona com a gente. Talvez assim nos frustaríamos menos, seríamos mais felizes e viveríamos com mais prazer e gratidão.
*Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do Abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela hoje é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Além dos livros ela é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias.
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