10/07/2020

THALIA TORRES: Eles que me aguentem...


ELES QUE ME AGUENTEM...

                                         *Thalia Torres

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos, por aqueles que não podiam escutar a música..."


Chico que me aguente quando eu ouvir toda a sua discografia e ainda assim, não encontrar no meio de sua melodia, a minha Geni;

Alceu que me aguente quando eu ouvir Girassol sem o cabelo da minha La Belle Dejour;


Zé Ramalho que me aguente com os seus devaneios tolos, que mais me torturam do que ele, com a sua terceira lâmina da saudade, dura feito diamante, cortando a um só golpe, a ilusão da gente;  

                   
Elba que me aguente quando eu fizer de suas melodias, o fuxico preciso no teu corpo, quando este vier até mim;

Bethânia que me aguente quando eu estiver em teus braços, provando do teu abraço gostoso e passeando no teu céu, me desiludindo com as canções que você fez pra mim;


Adriana que me aguente com a vontade que estou de entrar por essa porta agora e te dizer o quanto eu te adoro em meia hora, no maldito rádio da vida;


Elsa que me aguente com a vontade esotérica de comer você até que sua alma se sinta alimentada;


Caetano que me aguente, vivendo no silêncio da noite desse teu olhar de Gueixa, Kaburi, máscara, mistos de Medusa com deusa-do-amor;


Cazuza que me aguente você sendo meu pão, minha comida, e todo o amor que houver nessa vida, dando uns trocados pra dar garantia;


Geraldinho que me aguente em todos os fevereiros de janeiro a janeiro, dizendo que a saudade já não mata mais a gente, que no ar, o fogo vai virar semente, a gente rindo ou chorando;


Rita que me aguente com essa mania de você, com esse caso sério, lança perfume que somos nós ao som de um bolero, romantizando em Cuba, libre! Empapuçados de amor;


Ana que me aguente querendo saber em qual rua a minha vida vai encostar na tua, com essa minha vontade de que você resolva todos os problemas, em minha porta, nua, só assim você repara em mim;


Paula que me aguente com as minhas fantasias de fazer amor de madrugada, contando as horas, ouvindo passos, esperando o fim da hora, da fixação de mil e uma noites de silêncio que a ausência dos teus olhos me deixou;


Ritchie que me aguente menina veneno, porque esse mundo nunca foi pequeno demais pra nós dois, e que a saudade tem dessas coisas;


Rubel que me aguente porque quando bate aquela saudade, toda a minha vontade é de partilhar a ausência dela com você;


Johnny que me aguente e todas as suas almas sebosas, que não importa a hora, que eu volto até o início se preciso, te carregando mais uma vez, de volta pro mar, no anseio oceânico que é esse de amor marginal;


Liniker que me aguente com essa amarela paixão sem nome, mas com endereço, com esse amor acidente, dessa intimidade que a claridade dos teus olhos me causou;


Wanessa que me aguente com o fato de você ter sido a razão e o porque, de cantar essa canção assim, pois você é o amor que existe em mim;


Ney que me aguente porque hoje tive um pesadelo e acordei a tempo, a tempo de escrever todos os poemas e dentro deles, te dedicar um, exigindo desculpas para um abraço ou um consolo;


Fagner que me aguente com as juras secretas que eu não fiz e com as brigas de amor que eu não causei, por você não estar perto de mim. Te trazendo de volta ás velas do meu Mucuripe, e como prêmio, recebendo o teu abraço;


Vinicius que me aguente com seus sonetos de fidelidade, nas noites, nos bares, e por falar em saudade, onde anda você?;


Erasmo que me aguente sentado á beira do caminho, a procura de um rastro teu, que essa mulher que te procura acabe tua, mesmo que esta seja eu;


RPM que me aguente com essa juventude, aventura e medo, desde cedo, encerrado em grades de aço. Destoando um clique seco, um révolver, aponto em meu coração, na rádio pirata que é o amor;


Oswaldo que me aguente nessa noite plena, cabendo dentro de ti uma vida inteira, sem perder as estribeiras, dançando ao som dos bandolins;


Gonzaguinha que me aguente, ele que por favor me entenda, que palavra por palavra eis aqui um poeta se entregando, sem amarras, sangrando;


Paulinho da viola que me aguente, porque se a pressa não for a alma dos negócios, eu também não andarei a cem, se você é a poeira das ruas, é nas veias do teu asfalto que eu quero me injetar;


Raulzito que me aguente, porque é no metrô linha sete quatro três desse teu olhar, que quero desembarcar, nascer e viver no teu corpo como há dez mil anos atrás, ser o seu mais sonho orgasmo da continuação;


Fernando Mendes que me aguente, com esse desejo louco, com esse sonho ardente, vivendo do subúrbio dos teus olhos, me transportando da saudade, na realidade a que vim parar;


Roberto que me aguente vivendo de detalhes, no seu divã intermitente, que vão pouco a pouco me deixando ver, no meio de tudo, um pouco de você;


* Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais lida da semana