Privilégio dos Líricos
Desejo fatídico, pura sedução, absoluto-concreto, ereto sonho da continuação, ela é Diana, é Cassandra, é Joana Dar'c é Morgana, tem no peito o fervor de Alura, é assim árdua cigana, é a profecia sagrada do futuro, mas no presente profana, é o perigo do mundo vivendo assim á paisana;
Traz no corpo uma insígnia, um sentar robusto, e ar apaixonado, nos olhos e lábios um apelo profundo, é fome viril, com gesto caricato, parece mais uma poesia-lírica, nos versos quentes do anonimato, é a semântica inexistente do presente, conjugada ao verbo do passado;
O que será que ela pensa? O que será que ela é? Será que é todo esse charme-ambulante encalcada aos mais impuros instintos presentes em uma mulher? Será que é um sortilégio? Ou será um desafer? É a beleza do mundo ao avesso, traçados á sorte que quer, é um inverso de tudo, é um veneno-requer;
É aquele escorado de janela imaculado, místicos dá Basiléia, carrega a tristeza no mundo nos ombros, mas na cintura a revolta de um barco em um mar á velas, é arte do absurdo numa única aquarela, é a pintura do mundo, vindo das Caravelas, vem como Chico, vem como Versilo, vem como só ela, é um amor-adjunto, transitiva, paralela, é o motivo do jorro no ralo, é a recompensa de todo o sofrer do mundo, é o última pílula-infinito da cartela;
É aquela generalidade-obscena, singela, de ser, de sorrir e de falar, carrega nos olhos o fogo de Kripton, uma explosão infinda, um olhar doce, meio meigo-menina, um oceano-larvar, uma espécie de futuro que chega sem avisar, é a deusa do mundo, é o abismo profundo, é a teoria do tudo viva num 'único pulsar';
Teu corpo é abismo, é chantagem, é precipício, é lazer, é sair pela porta dos fundos frustrado, evitando o querer, é feminina fúria, perigo, prazer, é o inferno astral congelante, é o inerente viver, é a quentura de Dante, de Áries, inevitável-perecer, é a mescla divina do admirável novo mundo vindas em um sumário-efervescer;
Tens nos lábios a chama vulcânica de um trilhão de verões duros do mês de novembro no sertão nordestino, vermelhos como os 'ataques' á Israel, como sangue palestino, é a influência de mil orientes médios, de mil oceanos líricos, é o privilégio dos céticos, alimento dos cítricos, é ácido sulfúrico concentrado, mas nunca diluído, é o rompimento do céu nos dissipando, nos seduzindo;
É uma mescla do íntimo sensual de Hermera, vulgo princesa Kitana, tem quinze anos no corpo, mas dez mil anos na cama, é brusca, é flexível, é árdua é puta, é a poesia estética corpórea de tudo o que há de mais lindo no mundo com aquela bandana, é uma rainha, é uma cartomante, é uma feiticeira, é uma futura-amante, é de cabelo solto uma tortura sem pudor, itinerante, é o chocar da beleza consigo mesma, é um galope rasante;
É a terceira lâmina de Zé, é agonia dançante, é fome na seca, é o Nordeste escaldante, é escorada aquela janela, a poesia da vida num desenho esboçante, é ao conversar com os olhos, a lobotomia pensante, é o rasgar da libido de Freud mistos á lógica de Kant, é o clamor de amor niilista do mundo numa saudade constante, é a voz, é um anjo, é dessa mundo de erros, o acerto futuro, é a modernidade do amor-penetrante;
Eu quero comer você, rápido, súbito, feroz e intenso, quero ser na tortura do frio o abrir da tua camisa no extremo relento, para que em seguida eu seja do teu suéter, o teu mornar, o teu ornamento, eu quero te comer feito relógio parado, pendurado no tempero do teu corpo, pendurado no tempo, te ver nessa janela sem te tocar é um desalento, é um interno-desabar, é o meu corpo em tormento;
* Thalia Torres (Lia), graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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